A história do jovem craque francês Ousmane Dembélé

Dembélé desde criança já demonstrava um talento raro jogando bola nas ruas de sua cidade natal

Ousmane Dembélé, atacante do Barça | REUTERS Albert Gea

Houve uma época em que a luz do Madeleine, subúrbio popular da cidade francesa de Évreux (Normandia), vinha dos carros incendiados. Dias em que o cenário local era decorado com barricadas, perseguições policiais e muita violência. A morte de dois jovens de origem africana no dia 27 de outubro de 2005, quando fugiam da polícia em Clichy-sous-Bois, periferia de Paris, causou uma grande revolta no país.

Foram dias difíceis nas ruas do Madeleine, as mesmas onde Ousmane Dembélé começou a dar seus primeiros chutes em uma bola. Sua mãe, Fatimata, de origem Mauritana, já levava tempo vivendo ali, acompanhada do atual jogador do Barça e dos seus irmãos: um menino e duas meninas. "Crescer em um bairro assim reforça a tua personalidade, te obriga a ganhar o respeito dos outros", declarou ao jornal L'Équipe, Mikael Silvestre, ex-jogador da seleção francesa e personagem influente na passagem de Dembélé pelo Rennes.

Primeiros encantamentos



Uma década após aquelas tardes de futebol nas ruas do Madeleine, Dembélé pisou o gramado do Camp Nou para realizar um sonho. Ele era fã daquela geração de ouro do Barça. "Era a época do grande Barça, com Xavi, Iniesta e, claro, Messi. Os garotos adoravam eles e normalmente vestíamos uma camisa azul-grená. Nos treinos eles tentavam imitar as jogadas dos jogos e eu aproveitava para dizer que eles precisavam treinar muito para chegar a esse nível", disse o seu 'descobridor' Ahmed Wahbi.

Para um talento como Dembélé, tudo parecia questão de tempo e não demorou muito para surgir o interesse de alguns clubes importantes da região, como o Caen, o Le Havre, o Rennes e inclusive o PSG. Chegou a ter um acordo com o Le Havre, berço de algumas das pérolas mais recentes do futebol francês, como Pogba, Mahrez e Payet, mas com 13 anos acabou indo mesmo para o Rennes.

Uma joia a ser lapidada

"A primeira vez que eu vi ele foi em uma viagem de três ou quatro dias que fizemos. Estávamos todos os técnicos do centro de formação do Rennes e a impressão foi unânime: era muito bom. Já tinha uma excelente habilidade para driblar, apesar de ainda não ter a velocidade que tem agora", revelou Yannick Menu, que acompanhou grande parte do desenvolvimento de Ousmane na capital da Bretanha, primeiro como treinador e depois como diretor das categorias de base.

"Ele se divertia jogando, tinha essa habilidade de jogador de rua. A mãe dele me contou que desde que ele era criança sempre caminhava com uma bola nos pés. Se tirasse a bola dele, começava a chorar", explicou o que era o mentor de Dembélé naquela época. "Ele adquiriu essa habilidade jogando nas ruas onde o terreno não é regular e está cheio de obstáculos", acrescentou Wahbi.

Um grande sonho realizado



Dembélé progrediu o mais rápido que conseguiu. "Houve uma época na que tive um conflito com o clube, eu pensava que ele já estava preparado para treinar com os profissionais, mas isso não acontecia", lamentou Yannick. Mas no dia 6 de setembro de 2015, contra o Angers, Dembélé fez a sua estreia no time principal do Rennes. O resto já é história. Um hat-trick contra o Nantes, uma grande atuação no Vélodrome de Marsella e outros grandes desempenhos chamaram a atenção do mundo. E aí, apareceu o Barça. Mas Dembélé decidiu ir para o Borussia Dortmund.

"Ele sempre teve as ideias muito claras, queria um clube intermediário para jogar, mas sem tirar Barcelona da cabeça", assegurou Yannick. Dembélé teve muita personalidade para esperar, de escolher o caminho mais longo, de deixar o trem passar para alcançá-lo mais tarde e o talento dele não lhe deixou na mão. Não demorou para meter no bolso um dos estádios mais temidos do futebol europeu, o Westfalenstadion e seu muro amarelo, a Südtribune. Ficaram admirados por esse jogador rebelde, imprevisível, que era incapaz de dizer em uma entrevista qual era sua melhor perna.

"Eu sei com qual perna ele jogava melhor, mas se ele não diz quem sou eu para contar. Treinávamos muito a perna 'ruim', brincou Wahbi, que sempre que fecha os olhos consegue lembrar de Ousmane caminhando pelas ruas do Madeleine. Afinal, não foi há tanto tempo assim. E Dembélé conseguiu fechar o círculo e cumprir o sonho de todos os seus companheiros do ALM Évreux, que era a de vestir outra camisa azul-grená, a do FC Barcelona.

O Barça de Lionel Messi, que hoje é de carne e osso para Dembélé, que pode compartilhar o vestiário culé com o seu ídolo, uma parceria interrompida por uma lesão drástica. "Ousmane é forte, não me lembro dele contundido. Voltará com mais força porque é um garoto com muita personalidade", ressaltou Yannick Menu. "Está onde sempre quis estar e com gente que ele admira, superará a todos", avisou Ahmed Wahbi, que sabe de onde ele vem e aonde ele vai, desde os tempos das ruas do Madeleine até o Camp Nou das noites mágicas.




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